Quando as impressoras 3D foram criadas, seu principal uso era fabricar peças para a indústria automobilística, que se aproveitou da possibilidade de rapidamente produzir protótipos e testá-los antes de criar todas as ferramentas para a linha de produção. Desde então, armas, chocolate, canetas, brinquedos, roupas espaciais já saíram de dentro do equipamento. E agora as impressoras 3D podem salvar vidas e acabar com filas de transplantes.
Plásticos e metais estão sendo agora utilizados para criar: réplicas personalizadas de órgãos ou partes do esqueleto que permitem o planejamento preciso de cirurgias; guias cirúrgicas que indicam lugar de cortes e inserções; implantes que substituem ossos ou corrigem problemas de formação de órgãos; e próteses para membros mutilados.
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O princípio da impressora 3D é o mesmo da convencional. No lugar de tinta, cientistas introduzem no aparelho pó, gel ou filamento de metal ou de plástico, que, no lugar de letras, imprime camada por camada peças tridimensionais como dedos, crânios ou dentes.
O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) lançou em junho um site dedicado ao compartilhamento de arquivos para impressão em 3D, relacionados à saúde e à ciência, como peças de laboratório e modelos anatômicos humanos.
O País de Gales, realizou uma das mais complexas operações para reconstituir a face de um paciente, vítima de um acidente de moto, em 2012. O objetivo era restaurar a simetria do rosto do britânico Stephen Power, que fraturou ossos da face, mandíbula superior, nariz e crânio.
A cirurgia utilizou a tecnologia 3D em diversos momentos. A primeira parte foi o planejamento, feito no computador e em moldes impressos. “Durante a operação, só é possível ver um lado da face”, explica Peter Evans, especialista em próteses maxilofaciais e um dos fundadores do Cartis. “Fica difícil manter a orientação.”
Os cientistas imprimiram dois implantes de titânio: um para a base da órbita ocular e outro para uma placa que uniu pedaços de ossos quebrados. “Foi a primeira vez que utilizamos todos esses procedimentos na mesma operação”, conta Evans. Para o pesquisador, o uso de implantes feitos em impressoras 3D está começando a se tornar mais comum.
Para o futuro, a grande promessa são órgãos humanos impressos em 3D. Células do próprio paciente — de preferência as de fácil acesso, como da pele — seriam cultivadas em laboratório e introduzidas na impressora, que produziria partes do corpo como rim, pâncreas e fígado. O órgão passaria um tempo em uma espécie de incubadora, para maturar, e poderia, enfim, ser implantado no paciente.
Pode parecer ficção, mas as pesquisas já começaram.? O Instituto de Medicina Regenerativa da Universidade Wake Forest, nos Estados Unidos, um dos mais avançados na área de bioimpressão (impressão feita diretamente com células), desenvolveu o protótipo de um rim impresso com células e um biomaterial próprio para fixá-las, e a Organovo, primeira empresa a fabricar bioimpressoras, já imprimiu protótipos de tecido do fígado que reproduzem a composição e arquitetura naturais. Quem sabe assim as filas esperando doadores de órgãos não acaba e mais vidas poderão ser salvas.